segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Misto e o Barcelona

São vinte e cinco anos acompanhando futebol;





Pelo rádio, pela TV e demais formas de comunicação que vieram posteriormente;



Mas apesar disso, não me lembro de ter visto uma derrota tão acachapante como a do Santos ontem, no Japão;




Nem mesmo a apática atuação da seleção brasileira contra a França, na copa da África, em 2010, se compara, em termos de abatimento, com o futebol (leia-se, a falta dele) que o time santista apresentou em Yokohama, na manhã deste domingo, 18 de Dezembro;




O jogo de ontem me lembrou, em todos os seus momentos, um amistoso que nosso time do bairro foi fazer certa vez, “fora de casa”, no campo onde disputaríamos uma etapa da regional classificatória para o torneio citadino da várzea, aqui em Porto Alegre; como reconhecimento do (des)gramado onde seriam os jogos, fomos gentilmente convidados a disputar uma partida, uma semana antes da estréia; nosso adversário seria o então por nós desconhecido Misto F.C.



Voltando ao jogo do Santos: antes, durante e depois da partida, falou-se muito na qualidade do adversário;




Mas é esperado de todo time que chega a uma final, seja ela qual for, que tenha mesmo uma capacidade superior de jogar futebol;




Por isso, a meu ver, não se justifica o massacre aplicado pelo time catalão sobre a equipe brasileira;




Certa vez, um jogador de futebol em entrevista falou, antes de um jogo também decisivo: “ninguém pode prometer vitória; mas pode prometer empenho”;



Na minha opinião, foi exatamente isso o que faltou ao Santos. Uma falta de atitude bem sintetizada no gesto de pedir desculpas a cada mínima falta cometida sobre os atletas do time espanhol. É a história do excesso de respeito. Quem se lembra de Dinho, ex Grêmio, ou de Mancuso, ex Flamengo, sabe o que estes e outros atletas do mesmo gabarito fariam no caso de ter que parar uma jogada, a fim de evitar o gol do adversário; mesmo que o adversário ganhasse o triplo do salário deles.




No caso do meu time, ninguém ganhava nada. Mas, por sermos “estrangeiros” no bairro dos caras, acabamos “sentindo o peso” da partida. Lembro do comentário de um de nossos zagueiros, assim que viu o time do Misto entrando em campo, com meias, calções, e camisas –de mangas compridas – amarelos: “vai ser f...!”



E foi mesmo! O Misto não fez jus à cor do fardamento e botou nosso time na roda; na única chance de ataque, nosso Neymar, que atendia pelo nome de Chiquinho, foi parado a meu ver, com falta, não marcada. Por sinal, o árbitro (que não se distinguiria dos demais presentes, não fosse pelo apito na boca) nunca estava próximo das jogadas; até nisso o jogo do Santos me lembrou nosso amistoso, com uma arbitragem desconhecida pela maioria. Por coincidência, também perdemos por 4X0 um jogo onde este que vos fala, vestindo a camisa um, pegou o possível e o impossível para evitar um placar mais elástico; mas nunca mudei de ideia em relação àquela partida: faltou pegada, atitude, uma mordidinha a mais; lá se vão cinco anos daquele jogo; e as lições continuam fresquinhas na memória;




Não estou, com isso, dizendo que tanto o nosso time do bairro quanto o Santos deveria ter dado porrada porque assim teriam vencido; não; estou apenas afirmando que mais do que ganhar ou perder, faltou ao time da vila jogar futebol; e muitos vão dizer que o time brasileiro “tentou jogar, mas não viu a cor da bola”; vão dizer que “o Manchester United ou o Milan também perdem do Barcelona”, porque “o Barcelona é o melhor time do mundo”; ora, o melhor time do mundo precisa ser atacado; Chiquinho-neymar, hoje jornalista, escreveu que “chamar o Barcelona para o seu campo não é a melhor estratégia”; o que se traduziu na melhor expressão sobre a final do mundial, penso eu. Foi o que fizeram Misto e Barcelona. No nosso campo, não!




Pois bem, o Santos é o segundo melhor time do mundo; penso que os santistas vão ficar senão felizes, ao menos honrados em saber essa verdade; quem é santista, queria estar em primeiro lugar; alguns que não são, também queriam; eu estou entre esses; mas não deu; não porque o Barcelona joga mais, mas porque o Barcelona joga mais quando precisa jogar; o Santos demorou a entender isso; dentro de campo, não superou em habilidade o time espanhol; mas poderia tê-lo superado em determinação, garra, vontade; como nosso time do bairro poderia ter superado o Misto; Chiquinho está correto; “no nosso campo, não”.

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