quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Coisa de fã


Renato Russo já dizia que amar ao próximo era “démodé”, palavra do francês usada para designar algo que está fora de moda. Na música “Teatro dos Vampiros”, que integra o disco chamado “V”, o quinto da Legião Urbana, o poeta já falava sobre a dificuldade das pessoas em demonstrar seus sentimentos; falo dos sentimentos bons; os outros, a grande maioria de nós demonstra com facilidade; e olhe que a música foi lançada em 1991!


Mas curioso mesmo é observar o que eu chamo de comportamento de fã; o fã nutre por seu ídolo uma admiração que na maioria das vezes beira (e em algumas, até ultrapassa) os limites da divindade; se alguém que você conhece tem um ídolo – na música, no cinema, etc - não ouse falar mal do mesmo na presença do seu amigo, pois possivelmente, você arrumará briga; e o pior é que o tal ídolo nem vai ficar sabendo.


O cantor Eduardo Costa gravou uma música chamada “Fã número 1” que expressa bem o que um fã sente por seu ídolo; na letra, o rapaz fala do sentimento que tem pela moça, afirmando ser fã “dos seus olhos, da sua roupa” e do “sorriso estampado em sua boca”. De fato, sei, por experiência própria, que a arte do canto é mesmo algo que exerce verdadeiro fascínio sobre algumas pessoas; se você canta bem e fala coisas que as pessoas querem ouvir, cuidado: alguém à sua volta pode ser seu fã!


Os jovens são o maior exemplo do fanatismo causado pela idolatria; ao longo da história, artistas como Michael Jackson e Madonna, bem como boy bands’ à New Kids On The Block e Menudo, foram saudados primeiramente pelos jovens, que dessa forma contribuíram para que o restante de nós viessem a conhecer suas canções; isso apenas para citar o exemplo da música; também Tom Cruise e Leonardo Di Caprio despertaram celeuma em suas respectivas gerações de meninas por eles apaixonadas; as tais fãs.


No Brasil, a onda do momento são as meninas conhecidas como “Neymarzetes” cujo apelido nada pomposo se deve à idolatria pelo jogador Neymar; no Brasil, aliás, atleta do futebol nem carrega mais o nome do esporte bretão junto ao seu, de tão presente que já está em nossa cultura; não se fala mais jogador ‘de futebol’; quem joga bola é apenas ‘jogador’; sabe como é, coisa de fã...


Os mais críticos alimentam certa reserva pela idolatria das meninas alegando que o guri da vila famosa é feio; esse tipo de crítica também não é de hoje; tempos atrás, quando Amaral, então no Palmeiras, apresentou uma linda japonesa como sendo sua noiva, a maioria das pessoas não hesitava em afirmar, nas rodas de bar Brasil afora, que a relação era por “mero interesse”; quem chegasse perto, poderia afirmar que os “comentaristas” eram amigos íntimos do casal, tamanha a certeza com que faziam as afirmações; coisa de fã? Duvido muito; se por acaso o sujeito for incontestavelmente bonito, como diziam ser o caso de Raí, ex São Paulo F.C. e mais recentemente, de Kaká, a reserva passa a se alimentar na quase esperança de que o candidato a garanhão da vez seja homossexual;


Me pergunto por que motivo um ladrão, um assassino, um pedófilo não são igualmente criticados; acho que sei a resposta: o carro que levaram não foi o meu; o assassinado não era meu parente e a filha deflorada antes da hora não foi a minha (TOC! TOC! TOC!) é o discurso batido que explica sobre a pimenta no olho dos outros; quando o “jogador feio” aparece na mídia ao lado de um mulherão, a imagem me agride profundamente – ao contrário da reportagem sobre o assassinato – porque eu sei que poderia estar no lugar dele; afinal de contas, sou mais talentoso, estudei mais, sou mais bonito, mais jovem; se a tal mulher declarar que o ama acima de tudo, então, é o fim! Só pode ser mentira; a minha mulher nunca disse isso pra mim; tá na cara que isso é golpe; coisa de fã; só não vê quem não quer.


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