segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Coisas que eu queria te contar

Esta manhã, quando abri minha janela, havia uma moça na rua; ela estava se preparando para pegar o carro; trajava calça jeans, uma blusa e um casaquinho; usava óculos escuros e seu cabelo passeava pelo ar, obedecendo à vontade do vento que soprava e ao balançado de seus quadris; foi estranho e ao mesmo tempo, bonito, o modo como aquilo pareceu fazer parte de mim; e de tudo o que eu vivera até aquele momento; foi como se aquela moça, de algum modo, soubesse toda a minha vida; e ela entrou no carro, deu a partida e se foi; nunca nos falamos; provavelmente não mais a verei; toda a cena não durou um minuto completo; mas foi o suficiente para embelezar ainda mais um domingo que já tinha tudo para ser lindo; não sei se vem acontecendo somente comigo; às vezes, tenho vontade de perguntar às pessoas se acontece com elas também; mas o fato é que estou valorizando cada vez mais os domingos, esses dias que, definitivamente, não são iguais aos outros e que parecem se repetir cada vez mais depressa - quando vemos, mais uma semana se foi!


O prato do almoço não era o meu favorito; mesmo assim, comi como um rei; o vinho me pareceu o mais saboroso de todos, mesmo não sendo o da minha preferência; e escutei com atenção as mesmas historias de sempre, contadas pelas mesmas pessoas; só que hoje elas, as histórias, não me pareceram chatas como sempre; de algum modo, pude perceber que são partes de uma vida; de várias vidas que inclusive, se fundem com a minha própria; e fui até capaz de perceber lições contidas em frases que eu tanto escutara e nunca entendera, apenas porque não estava prestando atenção;


A tarde transcorreu exatamente igual a tantas outras: pessoas de todas as raças passaram por mim falando cada uma seu próprio idioma; teve passeio de bicicleta, caminhada, parque, roda de violão, sol forte, futebol na TV; e a cidade vibrou com os gols da vitória do nosso time, fogos de artifício se fizeram ouvir quando a partida acabou; e foi entardecendo e o vento (o mesmo que agitara o cabelo da moça horas antes) nos deu o recado de que era hora de voltar para nossas casas;


A temperatura caiu quando a noite chegou; trazendo a lembrança de um tempo em que todas as minhas preocupações se resumiam a uma angustia infantil por causa da prova na escola, na manhã seguinte; e a mesma alegria que eu sentia ao encontrar a colega mais bonita da minha sala se repetiu quando o seu rosto me veio à mente; e me lembrei da moça, do carro, do almoço, do passeio, do futebol; e foi aí que percebi que é você que dá sentido a tudo isso; foi então que notei que eu nunca antes prestara tanta atenção a mim e à própria vida; e como tudo ficou mais bonito e melhor depois que você chegou; e chorei de medo; não de te perder, mas sim, diante da possibilidade de passar por esta vida sem nunca ter te conhecido;


Hoje, sei que amo-te não apenas pelo que tu és, mas pelo que sou quando estou contigo.

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