sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Ficou faltando um

A copa do mundo de futebol disputada na França em 1998 foi especial para mim; lembro até hoje do então treinador da seleção brasileira, Zagallo, dizendo, ao fim de cada entrevista na TV, a frase pela qual ele seria lembrado: “vão ter que me engolir!” Zagallo fazia referência aos que eram de opinião contrária a ele ser o treinador ideal para a seleção. A cada vitória, o Brasil eliminava um adversário; e lá vinha o Zagallo, proferir outra de suas frases inesquecíveis: “só tá faltando quatro.” Agora, a alusão era à quantidade de adversários que faltavam para que o Brasil fosse campeão do mundo pela quinta vez em sua história. Mas ficou faltando um.

Após um bom começo, com uma vitória por 2X1 contra a Escócia e 3X0 contra o Marrocos, a seleção se deu ao luxo de perder o último jogo da primeira fase, numa pífia partida contra a Noruega. Lembro que uma famosa loja de calçados e material esportivo aqui da minha cidade lançou, na época, uma revista semanal, que vinha de brinde para quem comprasse acima de “X” valor; tenho até hoje as quatro revistas que “ganhei”, ao me esbaldar no cartão de crédito (e conhecer na prática, o significado da sigla SPC) apenas para ter a tal publicação; a imagem mais forte daquele jogo para mim, é a justamente uma foto da revista, onde Taffarel ajuda Jr. Baiano a levantar, depois do tombo que este levara com um drible de um Norueguês.

Mas ali acabou a brincadeira, como se diz; pelo resto da competição, o time brasileiro foi impecável! Venceu nas oitavas de final o bom time do Chile por 4X1. Neste dia, eu estava assistindo a partida na casa de uma família de amigos meus (pasmem!) chilenos. Lembro que a mãe deles afirmara, ao final da partida: “a partir de agora, meu time será o Brasil”. E o Zagallo disse: “só tá faltando três!”

As quartas de final foram contra a Dinamarca, que por pouco não honrou a camisa xadrez em vermelho e branco, estilo “mesa de restaurante italiano”. Num jogo sofrido, o Brasil bateu os gringos por 3X2 e avançou às semifinais. E nós, os meninos da turma, depois da partida fomos Jogar futebol, é claro. Reproduzir pela nossa rua os lances da copa do mundo! E o Zagallo, disse o quê? “só tá faltando dois!”

Mas nada, nada mesmo naquela copa superou em emoção a semifinal entre Holanda e Brasil; a seleção esteve na frente, permitiu o empate e, ao fim do tempo normal, seguiu-se a aflição da prorrogação; esta também acabou empatada, levando os brasileiros à agonia dos pênaltis que só terminou nas mãos do goleiro Taffarel; ao defender duas cobranças dos holandeses, o gaúcho classificou a seleção para a grande final, contra a França. E o Zagallo, disse o quê, dessa vez? Adivinhem!

Mas ficou faltando um; não se sabe ao certo até hoje o que aconteceu nos bastidores e, quando isso acontece, é comum cada um escolher a versão mais conveniente entre as muitas que escuta. Eu lembro que, imediatamente após a derrota da seleção pelo placar de 3X0 para a França, a TV pôs no ar um comercial que terminava dizendo: “valeu, Brasil; a gente não perdeu; só deixou pra depois”. Eu preferi, à época, não me deixar levar, ao menos não muito, pela emoção; foi difícil, mas tentei acreditar que a França tinha um time melhor, mais motivado, que jogava em casa e que de alguma forma, sabia que se não ganhasse uma copa do mundo naquela ocasião, dificilmente o faria em outra; e por isso deu o sangue em campo; à parte tudo isso, infelizmente, aquela copa ficou e ficará marcada como a copa que “o Brasil perdeu”, ao invés de ser lembrada como a copa que “a França ganhou”; meu coração de torcedor, apaixonado, é claro, mas jamais incoerente, não consegue acreditar em convulsão de atacantes, nem lobby entre marcas esportivas; muito menos que um time como a seleção brasileira possa vender um resultado em final de copa. Fui com meus amigos jogar bola, depois da final. Pena que ficou faltando um.

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