segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Aos mestres, com carinho

Lembro até hoje da primeira professora que tive, na vida: Vera era seu nome e tinha longos cabelos negros, mais ou menos como aquela atriz a Claudia Ohana (se você tem menos de 20 anos de idade, joga no Google). Ela era tudo o que eu esperava que minha primeira professora fosse: calma, compreensiva, sorridente e, a despeito de ter apenas seis anos de idade quando fui para a escola, bonita. Muitos anos depois, fui perceber que ela também tinha algo que era muito importante: explicava muito bem a matéria.

Ao contrário de alguns colegas que tive, Vera não se tornou um amor platônico para mim; não sofri nem chorei quando o ano terminou; ao contrário, comemorei muito a primeira aprovação da minha vida; queria mais era ir logo para o ano seguinte; a experiência havia sido extremamente positiva e eu estava ansioso para ver o que me aguardava a seguir.

O segundo ano não trouxe grandes novidades para mim em se tratando de professora; Sandra Regina era, a exemplo de Vera, um amor de pessoa, sendo também altamente dedicada em sua profissão; todos nós seus alunos lhe devemos muito e tenho certeza de que todos os meus colegas ainda lembram dela. Pra mim, aquela coisa de professor tirano continuava sendo uma lenda contada pelos que eram jovens há mais tempo. Mas o ano seguinte provou que eu estava enganado.

Claudete chegou em minha vida no terceiro ano estudantil para me mostrar que as coisas que eu ouvia sobre professores autoritários não eram lenda. Eram muito piores! A antiga palmatória (se você tem menos de vinte anos, já sabe o que fazer, né?) era aplicada nos que não aprendiam as lições; mas mais do que isso, além de nos fazer aprender, Claudete determinava tempo limite para que fizéssemos as coisas; isso, claro, fazia com que os mais lentos entrassem em pânico antes mesmo de começar as tarefas; e com tudo isso, ainda havia quem conseguisse ser bagunceiro em sala de aula(!) era o que se podia chamar de crianças corajosas!

Claudete mandava bilhetes para casa a fim de serem assinados pelo pai ou pela mãe daquele que fizesse bagunça; isso era uma atitude bastante comum aos mestres da época; o que provavelmente, levou toda uma geração a prática do estelionato, ao falsificar a assinatura do responsável para poder entrar na sala no dia seguinte; claro que no caso da Claudete, isso não funcionou; ela se dava ao trabalho de perguntar aos referidos responsáveis sobre os bilhetes, nas reuniões do círculo de pais e mestres; sim, senhor; foi uma geração de professores de ouro, em termos de dedicação.


Mas, apesar de tudo, os professores eram respeitadíssimos por todos nós, alunos; aqueles homens e mulheres que estavam lá na frente, com um pedaço de giz na mão e um livro na outra, eram quase deuses na terra; vistos como alguém que sabia tudo.

Hoje, sou professor de música e observo com certa tristeza que não existe mais essa saudável idolatria por parte dos alunos; tenho, inclusive, alunos que são professores em outras disciplinas; uma aluna me contou dias atrás que, enquanto ela explica a matéria, tem alunos usando fone de ouvido ou trocando mensagens SMS(!)

Eu gostaria de poder levar de volta no tempo esse pessoal que hoje faz isso; ao tempo em que havia revista nas mochilas, por parte dos professores, à procura de walkmans (se você tem menos de vinte anos...) os quais, caso encontrados, lá se ia uma folha de nossos cadernos em forma de bilhete para os pais; isso mesmo! Éramos proibidos simplesmente de levar rádios portáteis para a escola; os mais ousados arriscavam escutar no intervalo (recreio, à época) mas não podiam deixar que tal ato chegasse aos ouvidos de algum desafeto; em poucos minutos, algum professor (e podia ser QUALQUER UM) ficava sabendo; e tome bilhete pra casa!

Sejam autoritários ou permissivos, descolados ou conservadores, expressivos ou reservados, fato é que os professores nunca passam despercebidos em nossas vidas; gosto de pensar neles com uma frase que minha finada avó usava para se referir ao grupo docente: "políticos, atletas, artistas, todos passam pelas mãos deles (os professores) isso os torna as pessoas mais importantes do mundo".

Sem sombra de dúvida.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Energia que um dia contagiou

Andei uns dias sem escrever aqui, por força das circunstâncias, que é a desculpa que a gente normalmente usa quando tem preguiça de fazer alguma coisa; claro que tenho mesmo minhas atividades; mas o que andou me faltando foram temas, ideias; até tive algumas, mas não dariam para manter a sequência diária de artigos - o que, aliás, é uma das coisas que admiro nos cronistas da mídia impressa; não é fácil ter ideia todo dia; menos ainda ideias boas!

O assunto do momento é o Carnaval; nunca sei se devo escrever 'Carnaval' com letra maiúscula ou não; é fato que é nome próprio, mas não é definitivo, prova está que possui plural. Bem, mas como isso de gramática não interessa aos foliões, vamos falar do Carnaval como festa popular; e em maiúscula.

Apesar de ser avesso ao Carnaval na avenida, sempre assisto a todas as noites de desfile pela TV; e antes que comecem os engraçadinhos dizendo que eu não sei sambar, já vou logo avisando: eu não sei sambar! Mas nem é esse o motivo principal; é que pra mim, o Carnaval virou sinônimo de nostalgia; sempre fico horas lembrando dos antigos e "grudentos" refrões dos anos 80 e 90; aqueles que, como eu, são jovens há mais tempo irão se lembrar de "bum, bum, paticumbum prungurundum", "yes, nós temos braguinha", "liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós" e tantos outros; hoje, não se sabe mais qual a bateria que está tocando; os intérpretes imortais, identificados com sua escola de samba estão desaparecendo; alguns, por força maior; outros, seduzidos por algo que lhes pareça mais vantajoso - seja lá o que isso signifique - simplesmente mudaram de barracão, levando o apelido conquistado na escola de origem, confundindo, assim, os menos avisados:

 - Luisinho de onde? Mas não era da... da... como é mesmo o nome?

Sinto falta particularmente, de um refrão forte; o último que se cristalizou na minha mente data de 1992 e dizia algo tipo "explode coração/ na maior felicidade/ contagiando sacudindo essa cidade"; verdade que ganhou força embalado por muitas torcidas de futebol; cada torcida adaptou o hitzinho de acordo com suas necessidades de comemorar ou zuar a torcida rival; mas isso só aconteceu porque a letra, em sua essência, era boa; tudo o que é bom, é difícil de esquecer; embora a recíproca não seja verdadeira.

É isso; vou agora curtir mais um pouquinho de Carnaval (em maiúscula, afinal de contas) da forma como cedo aprendi e da qual mais gosto; pela TV; se eu não penso em ir à avenida, algum dia? Sim, talvez; não descarto de todo tal hipótese; mas sabe como é, Carnaval é em época quente; refrigerante, ar condicionado, poltrona macia... são coisas difíceis de largar; se fosse para ir num desfile de antigamente, quando eu ainda não tinha idade para ir a desfiles, aí, sim; deixaria tudo; o que tenho medo mesmo é de, no futuro, não me lembrar dos refrões de hoje em dia. Nem ter o que escrever em letra maiúscula.