sábado, 31 de dezembro de 2011

Que tudo se realize

O ano acabou e o ano novo é o assunto do momento; e assim deve ser até pelo menos por mais um mês; talvez um pouco mais; eu particularmente, desejo feliz ano novo até o Carnaval, salvo nos anos em que o Carnaval acontece no mês de Março, porque aí, se torna muito extenso; as pessoas estranham quando eu lhes desejo feliz ano novo muito tempo depois do Reveillón ter acontecido; curioso é observar que ninguém estranha alguém que lhes manda pôr a boca em algum lugar impublicável; será a velha tendência humana àquilo que é ruim? Especialmente hoje, não quero me prender nisso.


Hoje quero falar de coisas boas; só de coisas boas; das conquistas, das realizações, dos desejos concretizados; consegui (re)abrir minha tão sonhada loja e, se ainda não estou rico (e é claro que não estou) posso dizer que estou conseguindo me manter; realizei meu sonho de ter uma locadora de vídeo, não tenho um patrão para me preocupar em deixar sempre satisfeito, faço meu horário, só ando a pé se eu quiser e tenho os domingos para mim, todos os domingos; minha mãe é ainda jovem, bonita e, graças a Deus, goza de perfeita saúde; tenho alguns bons amigos por perto, que me aceitam como sou, me deram um apelido, o primeiro apelido que gostei, na vida e gostam de mim; não apenas me toleram porque os ajudo de alguma maneira; conheço algumas moças interessadas em mim e uma pela qual me interesso; fazer com que este interesse seja correspondido é, inclusive, uma das minhas metas para 2012.


Por sinal, as pessoas que conheci foram sem dúvida alguma, o grande diferencial do ano que se encerra hoje; foram elas que fizeram deste um ano inesquecível; meus amigos têm alguns inimigos que, por força da fraternidade que nasceu entre nós, se tornaram automaticamente inimigos meus também; mas, como disse, vamos falar somente de coisas boas.

Não sou adivinho, mas algumas coisas não deverão mudar nada em 2012; Chaves deve continuar a ser a série mais assistida da TV brasileira; políticos deverão continuar a ser destituídos de seus cargos, sob suspeita de envolvimento com corrupção das quais, eles nada se lembrarão; um grande time de São Paulo deve fazer mais uma tentativa de vencer a Taça Libertadores da América, assim como um grande time gaúcho; subcelebridades continuarão a engravidar de cantores, atores e afins e exigindo posteriormente, "seus direitos" na justiça; como o poeta já dizia, assim caminha a humanidade.

Gosto, particularmente, deste não saber, não conseguir sequer imaginar o que vai acontecer na minha vida no ano que se inicia; quando mais novo, queria muito um emprego de escritório onde pudesse usar minhas gravatas; hoje, não consigo imaginar uma só pessoa que possa ser feliz tendo uma vida controlada por e pelo computador, sem espaço para o acaso, o inesperado. Será que o Brasil vai ficar em primeiro lugar nas Olimpíadas de Londres? Será este o ano em que especialistas acharão a cura para alguns dos males da saúde que há anos afligem tantas famílias, mundo afora? Será um ano de separações ou casamentos? Promoções ou demissões? São coisas que só o próprio tempo tem a resposta.

Quando olho para trás e lembro de mim mesmo no início do ano que agora termina, penso como era incrível não saber nada sobre o que aconteceria ao longo desses meses e agora, a história está escrita; por isso, finalizo deixando aqui algumas resoluções de ano novo:

Levar mais a sério as coisas que eu posso resolver sozinho;
levar menos a sério coisas que não dependem de mim para serem resolvidas;

tentar conversar mais e julgar menos antes de saber o que se passa;
cuidar mais de mim e menos dos outros;
atender o telefone na primeira chamada;
não xingar mentalmente quem não me atende na primeira chamada;
procurar mais as pessoas de que gosto ao invés de apenas esperar que me procurem.

Essas são algumas das resoluções a que me proponho; a mais importante delas, já citei lá em cima. quem me conhece, vai poder até me cobrar.

E um feliz 2012 para todos nós!!!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Mulheres de Biquini

Mesmo para pessoas como eu, que não gostam de ir à praia, poucas coisas na vida são tão fascinantes, esteticamente falando, quanto mulheres de biquíni; é verdade; mesmo que ela não seja modelo de beleza, a simples visão daqueles míseros dois pedaços de pano cobrindo as suas partes mais desejadas mexe com o imaginário de qualquer homem; com alguns deles, mexe tanto que eles começam a desejar SER a garota de biquini; tenho alguns amigos que se encaixam nesta hipótese; uns de modo discreto, outros não conseguiram segurar a onda e assumiram de vez; sobre isso, sei pouco; não me arrisco a tecer comentários mais profundos;
A praia, claro, é o lugar ideal para satisfazermos essa pequena tara, que, se mantida dentro de certo padrão comportamental, é até saudável; claro que para que exista tal comportamento, a mulher tem que ajudar; por exemplo, aquele modelo de biquini de lacinho, onde basta(ria) um puxãozinho para desatar, deixando a praia inteira ver a intimidade da moça é uma maldade! Tenho uma amiga que alguns verões atrás me revelou que dá um nó antes de fazer o lacinho; mas nem todas as moças fazem isso - depois do que disse minha amiga, eu passei a reparar! Uma covardia conosco, é o que elas fazem; se for muito bonita, até outra mulher pode considerar uma covardia; uma agressão aos olhos do seu marido! Onde já se viu desfilar tamanha beleza em público? Indecência!
Na TV, a moda agora são as moças de biquini em propaganda de cerveja; nem dá pra reclamar de que os bares que vendem cerveja não são como os bares da TV - porque em TV NADA se parece com a vida real! Ou por acaso você já precisou atravessar um rio com seu carro, como aparece naqueles comerciais de camionetes? (hum, pensando bem, talvez isso você já tenha feito, mesmo; tudo depende de onde você mora...)
Voltemos ao que nos traz aqui: as mulheres de biquini; a geração de homens que nasceu nos anos 80 é a mais privilegiada de todos os tempos em questão de visibilidade corporal feminina, pois nunca os biquinis estiveram tão, digamos, generosos como atualmente; daí o fato de o seu avô gostar tanto de pegar uma praia com você, todos os finais de tarde; entendeu, mané? Você não é um neto assim tão f... quanto pensa, não é lá essas coisas em termos de companhia, também; mas não se desespere; qualquer homem perde para um biquini; ainda mais se for um de dar lacinho.
Infelizmente, nunca vi nenhum acidente com biquini; tudo o que sei são histórias contadas por amigos ou vídeos de internet; quando digo "infelizmente", sei que muitos irão me considerar um pervertido; a esses, convido ao seguinte raciocínio: uma mulher que é bonita, sabe que é bonita; aí, ela veste um biquini absurdamente pequeno (e quase sempre, de uma cor que remente à transparência, como amarelo ou mesmo branco) e sai à vista de todos; se por acaso acontecer de ela perder alguma peça, entendo que não lhe resta nem mesmo o direito de queixa; até porque, pouco há que já não estivesse à mostra, concorda?
E assim vamos juntos, neste atol de biquini; o verão está aí, mais um verão na vida de todos nós! Espero sinceramente que neste ano, eu veja algum acidente com biquini se desamarrando diante dos meus olhinhos sedentos; ah, mas para isso preciso aprender a gostar de praia.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A mais linda história de amor da vida real de todos os tempos

Eu retornava pra casa, em um dia muito frio quando tropecei em uma carteira. Procurei por algum meio de identificar o dono. Mas a carteira só continha três dólares e uma carta amassada, que parecia ter ficado ali por muitos anos.



No envelope, muito sujo, a única coisa legível era o endereço do remetente. Comecei a ler a carta tentando achar alguma dica. Então eu vi o cabeçalho.


A carta tinha sido escrita quase sessenta anos atrás. Tinha sido escrita com uma bonita letra feminina em azul claro sobre um papel de carta com uma flor ao canto esquerdo. A carta dizia que sua mãe a havia proibido de se encontrar com Michael mas ela escrevia a carta para dizer que sempre o amaria. Assinado Hannah.


Era uma carta bonita, mas não havia nenhum modo, com exceção do nome Michael, de identificar o dono. Entrei em contato com a cia. telefônica, expliquei o problema ao operador e lhe pedi o número do telefone no endereço que havia no envelope. O operador disse que havia um telefone mas não poderia me dar o número. Por sua própria sugestão, entrou em contato com o número, explicou a situação e fez uma conexão daquele telefone comigo. Eu perguntei à senhora do outro lado, se ela conhecia alguém chamada Hannah.


Ela ofegou e respondeu:


- "Oh! Nós compramos esta casa de uma família que tinha uma filha chamada Hannah. Mas isto foi há 30 anos!"


- "E você saberia onde aquela família pode ser localizada agora?" Eu perguntei.


- "Do que me lembro, aquela Hannah teve que colocar sua mãe em um asilo alguns anos atrás", disse a mulher.


"Talvez se você entrar em contato eles possam informar".


Ela me deu o nome do asilo e eu liguei.


Eles me contaram que a velha senhora tinha falecido alguns anos atrás mas eles tinham um número de telefone onde acreditavam que a filha poderia estar vivendo. Eu lhes agradeci e telefonei. A mulher que respondeu explicou que aquela Hannah estava morando agora em um asilo. A coisa toda começa a parecer estúpida, pensei comigo mesmo.


Pra que estava fazendo aquele movimento todo só para achar o dono de uma carteira que tinha apenas três dólares e uma carta com quase 60 anos? Apesar disto, liguei para o asilo no qual era suposto que Hannah estava vivendo e o homem que atendeu me falou:


- " Sim, a Hannah está morando conosco."


Embora já passasse das 10 da noite, eu perguntei se poderia ir para vê-la.


- "Bem", ele disse hesitante - se você quiser se arriscar, ela poderá estar na sala assistindo a televisão.


Eu agradeci e corri para o asilo. A enfermeira noturna e um guarda me cumprimentaram à porta. Fomos até o terceiro andar. Na sala, a enfermeira me apresentou a Hannah.


Era uma doçura, cabelo prateado com um sorrisso calmo e um brilho no olhar. Falei-lhe sobre a carteira e mostrei a carta.


Assim que viu o papel de carta com aquela pequena flor à esquerda, ela respirou fundo e disse:

- Esta carta foi o último contato que tive com Michael.


Ela pausou um momento em pensamento e então disse suavemente:


- Eu o amei muito. Mas na ocasião eu tinha só 16 anos e minha mãe achava que eu era muito jovem. Oh, ele era tão bonito. Ele se parecia com Sean Connery, o ator.


- Sim - ela continuou - Michael Goldstein era uma pessoa maravilhosa. Se você o achar, lhe fale que eu penso freqüentemente nele. E - ela hesitou por um momento, e quase mordendo o lábio - lhe fale que eu ainda o amo.


- Você sabe - ela disse sorrindo com lágrimas que começaram a rolar em seus olhos - eu nunca me casei. Eu jamais encontrei alguém que correspondesse ao Michael...


Eu agradeci a Hannah e disse adeus.


Quando passava pela porta da saída, o guarda perguntou,


- A velha senhora pode lhe ajudar?


- Pelo menos agora eu tenho um sobrenome. Mas eu acho que vou deixar isto para depois. Eu passei quase o dia inteiro tentando achar o dono desta carteira.


Quando o guarda viu a carteira, ele disse,


- Ei, espere um minuto!Isto é a carteira do Sr. Goldstein.


Eu a reconheceria em qualquer lugar. Ele está sempre perdendo a carteira. Eu devo tê-la achado pelos corredores ao menos três vezes".


- Quem é Sr. Goldstein? Eu perguntei com minha mão começando a tremer.


- Ele é um dos idosos do 8º andar. Isso é a carteira de Mike Goldstein sem dúvida. Ele deve ter perdido em um de seus passeios.


Agradeci o guarda e corri ao escritório da enfermeira.


falei-lhe sobre o que o guarda tinha dito. Nós voltamos para o elevador e subimos. No oitavo andar, a enfermeira disse,


- Acho que ele ainda está acordado. Ele gosta de ler à noite.


Ele é um homem bem velho.


Fomos até o único quarto que ainda tinha luz e havia um homem lendo um livro. A enfermeira foi até ele e perguntou se ele tinha perdido a carteira. Sr. Goldstein olhou com surpresa, pondo a mão no bolso de trás e disse:


- Oh, está perdida!


- Este amável cavalheiro achou uma carteira e nós queremos saber se é sua.


Entreguei a carteira ao Sr. Goldstein, ele sorriu com alívio e disse:


- Sim, é minha! Devo ter derrubado hoje a tarde. Eu quero lhe dar uma recompensa.


- Não, obrigado - eu disse. Mas eu tenho que lhe contar algo.


Eu li a carta na esperança de descobrir o dono da carteira.


O sorriso em seu rosto desapareceu de repente.


- Você leu a carta?


- Não só li, como eu acho que sei onde a Hannah está.


Ele ficou pálido de repente.


- Hannah? Você sabe onde ela está? Como ela está?


É ainda tão bonita quanto era? Por favor, por favor me fale - ele implorou.


- Ela está bem... E bonita da mesma maneira como quando você a conheceu - eu disse suavemente.


O homem sorriu e perguntou,


- Você pode me falar onde ela está? Quero chamá-la amanhã.


Ele agarrou minha mão e disse:


- Eu estava tão apaixonado por aquela menina que quando aquela carta chegou minha vida literalmente terminou. Eu nunca me casei. Eu sempre a amei.


- Sr. Goldstein - eu disse - Venha comigo.


Fomos de elevador até o terceiro andar. Atravessamos o corredor até a sala onde Hannah estava assistindo televisão.


A enfermeira caminhou até ela:


- Hannah - ela disse suavemente - enquanto apontava para Michael que estava esperando comigo na entrada. "Você conhece este homem?"


Ela ajeitou os óculos, olhou um momento, mas não disse uma palavra. “Michael” disse suavemente, quase em um sussurro "Hannah, é o Michael. Lembra-se de mim?"


- Michael! Eu não acredito nisto! Michael! É você! Meu Michael!


Ele caminhou lentamente até ela e se abraçaram. A enfermeira e eu partimos com lágrimas rolando em nossas faces.


- Veja - eu disse. "Veja como o bom Deus trabalha! Se tem que ser, será!".


Aproximadamente três semanas depois eu recebi uma chamada do asilo em meu escritório.


- Você pode vir no domingo para assistir a um casamento?


O Michael e Hannah vão se casar!


Foi um casamento bonito, com todas as pessoas do asilo devidamente vestidos para a celebração. Hannah usou um vestido bege claro e bonito. Michael usou um terno azul escuro. O hospital lhes deu o próprio quarto e se você sempre quis ver uma noiva com 76 anos e um noivo com 79 anos agindo como dois adolescentes, você tinha que ver este par.


Um final perfeito para um caso de amor que tinha durado quase 60 anos.

Para quem leu, retransmita; os jovens de hoje e de sempre têm a missão de fazer as pessoas acreditarem no amor a qualquer tempo.


Autor Desconhecido






quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Coisa de fã


Renato Russo já dizia que amar ao próximo era “démodé”, palavra do francês usada para designar algo que está fora de moda. Na música “Teatro dos Vampiros”, que integra o disco chamado “V”, o quinto da Legião Urbana, o poeta já falava sobre a dificuldade das pessoas em demonstrar seus sentimentos; falo dos sentimentos bons; os outros, a grande maioria de nós demonstra com facilidade; e olhe que a música foi lançada em 1991!


Mas curioso mesmo é observar o que eu chamo de comportamento de fã; o fã nutre por seu ídolo uma admiração que na maioria das vezes beira (e em algumas, até ultrapassa) os limites da divindade; se alguém que você conhece tem um ídolo – na música, no cinema, etc - não ouse falar mal do mesmo na presença do seu amigo, pois possivelmente, você arrumará briga; e o pior é que o tal ídolo nem vai ficar sabendo.


O cantor Eduardo Costa gravou uma música chamada “Fã número 1” que expressa bem o que um fã sente por seu ídolo; na letra, o rapaz fala do sentimento que tem pela moça, afirmando ser fã “dos seus olhos, da sua roupa” e do “sorriso estampado em sua boca”. De fato, sei, por experiência própria, que a arte do canto é mesmo algo que exerce verdadeiro fascínio sobre algumas pessoas; se você canta bem e fala coisas que as pessoas querem ouvir, cuidado: alguém à sua volta pode ser seu fã!


Os jovens são o maior exemplo do fanatismo causado pela idolatria; ao longo da história, artistas como Michael Jackson e Madonna, bem como boy bands’ à New Kids On The Block e Menudo, foram saudados primeiramente pelos jovens, que dessa forma contribuíram para que o restante de nós viessem a conhecer suas canções; isso apenas para citar o exemplo da música; também Tom Cruise e Leonardo Di Caprio despertaram celeuma em suas respectivas gerações de meninas por eles apaixonadas; as tais fãs.


No Brasil, a onda do momento são as meninas conhecidas como “Neymarzetes” cujo apelido nada pomposo se deve à idolatria pelo jogador Neymar; no Brasil, aliás, atleta do futebol nem carrega mais o nome do esporte bretão junto ao seu, de tão presente que já está em nossa cultura; não se fala mais jogador ‘de futebol’; quem joga bola é apenas ‘jogador’; sabe como é, coisa de fã...


Os mais críticos alimentam certa reserva pela idolatria das meninas alegando que o guri da vila famosa é feio; esse tipo de crítica também não é de hoje; tempos atrás, quando Amaral, então no Palmeiras, apresentou uma linda japonesa como sendo sua noiva, a maioria das pessoas não hesitava em afirmar, nas rodas de bar Brasil afora, que a relação era por “mero interesse”; quem chegasse perto, poderia afirmar que os “comentaristas” eram amigos íntimos do casal, tamanha a certeza com que faziam as afirmações; coisa de fã? Duvido muito; se por acaso o sujeito for incontestavelmente bonito, como diziam ser o caso de Raí, ex São Paulo F.C. e mais recentemente, de Kaká, a reserva passa a se alimentar na quase esperança de que o candidato a garanhão da vez seja homossexual;


Me pergunto por que motivo um ladrão, um assassino, um pedófilo não são igualmente criticados; acho que sei a resposta: o carro que levaram não foi o meu; o assassinado não era meu parente e a filha deflorada antes da hora não foi a minha (TOC! TOC! TOC!) é o discurso batido que explica sobre a pimenta no olho dos outros; quando o “jogador feio” aparece na mídia ao lado de um mulherão, a imagem me agride profundamente – ao contrário da reportagem sobre o assassinato – porque eu sei que poderia estar no lugar dele; afinal de contas, sou mais talentoso, estudei mais, sou mais bonito, mais jovem; se a tal mulher declarar que o ama acima de tudo, então, é o fim! Só pode ser mentira; a minha mulher nunca disse isso pra mim; tá na cara que isso é golpe; coisa de fã; só não vê quem não quer.


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A Notável História de Tom

"Um dia, há muitos anos atrás, eu estava de pé na porta da sala, esperando meus alunos entrarem para nosso primeiro dia de aula do semestre. Foi aí que vi Tom, pela primeira vez. Não consegui evitar que meus olhos piscassem de espanto. Ele estava penteando seus cabelos longos e loiros que batiam uns vinte centímetros abaixo dos ombros. Eu nunca vira um rapaz com cabelos tão longos. Acho que a moda estava apenas começando nessa época.


Mesmo sabendo que o que importa não é o que está fora, mas o que vai dentro da cabeça, naquele dia eu fiquei um pouco chocado. Imediatamente classifiquei Tom com um "E" de estranho... muito estranho! Tommy acabou se revelando o "ateísta de plantão" do meu curso de Teologia da Fé. Constantemente, fazia objeções ou questionava sobre a possibilidade de existir um Deus-Pai que nos amasse incondicionalmente. Convivemos em relativa paz durante o semestre, embora eu tenha que admitir que às vezes ele era bastante incômodo. No fim do curso, ele se aproximou e me perguntou, num tom ligeiramente irônico:


- O senhor acredita mesmo que eu possa encontrar Deus algum dia?


Resolvi usar uma terapia de choque:


- Não, eu não acredito! - respondi.


- Ah! - ele respondeu - Pensei que era este o produto que o senhor esteve tentando nos vender nos últimos meses.


Eu deixei que ele se afastasse um pouco e falei, bem alto:


- Eu não acredito que você consiga encontrar Deus, mas tenho absoluta certeza de que Ele o encontrará um dia. Ele deu de ombros e foi embora da minha sala e da minha vida.


Algum tempo depois soube que Tommy tinha se formado e, em seguida, recebi uma notícia triste: ele estava com um câncer terminal. E antes que eu resolvesse se ia à sua procura, ele veio me ver. Quando entrou na minha sala, percebi que seu físico tinha sido


Devastado pela doença e que os cabelos longos não existiam mais, devido à quimioterapia.


Entretanto, seus olhos estavam brilhantes e sua voz era firme, bem diferente daquele garoto que conheci.


- Tommy, tenho pensado em você. Ouvi dizer que está doente! - falei.


- Ah, é verdade, estou seriamente doente. Tenho câncer nos dois pulmões. É uma questão de semanas, agora.


- Você consegue conversar bem a esse respeito?


- Claro, o que o senhor gostaria de saber?


- Como é ter apenas vinte e quatro anos e saber que está morrendo?


- Acho que poderia ser pior.


- Como assim?


- Bem, eu poderia ter cinqüenta anos e não ter noção de valores ou ideais, ou ter sessenta anos e pensar que bebida, mulheres e dinheiro são as coisas mais "importantes" da vida.


Lembrei-me da classificação que atribuí a ele: "E" de "estranho".


 - Mas a razão pela qual eu realmente vim vê-lo - disse Tom - foi a frase que o senhor me disse no último dia de aula. (Ele se lembrava!...)


Tom continuou:


- Eu lhe perguntei se o senhor acreditava que eu encontraria Deus algum dia e o senhor respondeu 'Não', o que me surpreendeu. Em seguida, o senhor disse, "mas Ele o encontrará". Eu pensei um bocado a respeito daquela frase, embora na época não estivesse muito interessado no assunto. Mas quando os médicos removeram um nódulo da minha virilha e me disseram que se tratava de um tumor maligno, comecei a pensar com mais seriedade sobre a idéia de procurar Deus. E quando a doença se espalhou por outros órgãos, eu comecei realmente a dar murros desesperados nas portas de bronze do paraíso. Mas Deus não apareceu. De fato, nada aconteceu. O senhor já tentou fazer alguma coisa por um longo período,sem sucesso? A gente fica cansado, desanimado. Um dia, ao invés de continuar atirando apelos por cima do muro alto atrás de onde Deus poderia estar... ou não... eu desisti, simplesmente.


Decidi que de fato não estava me importando... com Deus, com uma
possível vida eterna ou qualquer coisa parecida. E decidi utilizar o tempo que me restava fazendo alguma coisa mais proveitosa. Pensei no senhor e nas suas aulas e me lembrei de uma coisa que o senhor havia dito noutra ocasião: "A tristeza mais profunda, sem remédio, é passar pela vida sem amar. Mas é quase tão triste passar pela vida e deixar este mundo sem jamais ter dito às pessoas queridas o quanto você as amou." Então resolvi começar pela pessoa mais difícil: meu pai. Ele estava lendo o jornal quando me aproximei dele:


- Papai...eu disse.


- Sim, o que é? - ele perguntou, sem baixar o jornal.


- Papai, eu gostaria de conversar com você.


- Então fale.


- É um assunto muito importante!


O jornal desceu alguns centímetros, vagarosamente.


- O que é?


- Papai, eu o amo muito. Só queria que você soubesse disso.


O jornal escorregou para o chão e meu pai fez duas coisas que eu jamais havia visto: Ele chorou e me abraçou com força. E conversamos durante toda a noite, embora ele tivesse que ir trabalhar na manhã seguinte. Foi tão bom poder me sentar junto do meu pai, conversar, ver suas lágrimas, sentir seu abraço, ouvi-lo dizer que também me amava!... Foi uma emoção indescritível!


Foi mais fácil com minha mãe e com meu irmão mais novo. Eles choraram também e nós nos abraçamos e falamos coisas realmente boas uns para os outros. Falamos sobre as coisas que tínhamos mantido em segredo por tantos anos, e que era tão bom partilhar. Só lamentei uma coisa: que eu tivesse desperdiçado tanto tempo, me privando de momentos tão especiais.


Naquela hora eu estava apenas começando a me abrir com as pessoas que amava.


Então, um dia, eu olhei, e lá estava ELE. Ele não veio ao meu encontro quando lhe implorei. Acredito que estava agindo como um domador de animais que, segurando um chicote, diz: - Vamos, pule! Eu lhe dou três dias... três semanas...


Parece que Deus não se deixa impressionar. Ele age a Seu modo e a Seu tempo. Mas o que importa é que Ele estava lá. Ele me encontrou... O senhor estava certo. Ele me encontrou mesmo depois de eu ter desistido de procurar por Ele.


- Tommy - eu disse, bastante comovido - o que você está dizendo é muito mais importante e muito mais universal do que você pode imaginar. Para mim, pelo menos, você está dizendo que a maneira certa de encontrar Deus, não é fazendo Dele um bem pessoal, uma solução para os nossos problemas ou um consolo em tempos difíceis, mas sim se tornando disponível para o verdadeiro Amor. O apóstolo José disse isto: "Deus é Amor e aquele que vive no Amor, vive com Deus e Deus vive com ele".


- Tom, posso pedir-lhe um favor? Você sabe que me deu bastante trabalho quando foi meu aluno. Mas (aos risos) agora você pode me compensar por aquilo. Você viria à minha aula de Teologia da Fé e contaria aos meus alunos o que você acabou de me contar? Se eu lhes contasse não seria a mesma coisa, não tocaria tão fundo neles!


- Oooh!... eu me preparei para vir vê-lo, mas não sei se estou


Preparado para enfrentar seus alunos.


- Então, pense nisto. Se você se sentir preparado, telefone para mim.


Alguns dias mais tarde, Tom telefonou e disse que falaria com a minha turma. Ele queria fazer aquilo por Deus e por mim. Então marcamos uma data. Mas, o dia chegou... e ele não pôde ir. Ele tinha outro encontro, muito mais importante do que aquele. Ele se foi... Tom havia dado o grande passo para a verdadeira realidade. Ele foi ao encontro de uma nova vida e de novos desafios.


Antes de ele morrer, ainda conversamos uma vez.


- Não vou ter condições de falar com sua turma. - ele disse.


- Eu sei, Tom.


- O senhor falaria com eles por mim? O senhor falaria... com todo mundo por mim?


- Vou falar, Tom. Vou falar com todo mundo. Vou fazer o melhor que
puder. Portanto, a todos vocês que foram pacientes, lendo esta declaração de amor tão sincero, obrigado por fazê-lo.


E a você Tommy, onde quer que esteja, aí está: eu falei com todo


mundo...do melhor modo que consegui. E espero que as pessoas que tiveram conhecimento desta história, possam contá-la aos seus amigos, para que mais gente possa conhecê-la..."


"OS AMIGOS SÃO O MEIO PELO QUAL DEUS GOSTA DE CUIDAR DE NÓS!..."


...QUE FALEMOS PARA AS PESSOAS QUE VERDADEIRAMENTE NOS AMAM:


- EU TE AMO !!!!!!!!!!!!!!


Para quem leu... retransmita...


"Não diga pra Deus que você tem um grande problema, diga
pro seu problema que você tem um grande Deus ".

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Misto e o Barcelona

São vinte e cinco anos acompanhando futebol;





Pelo rádio, pela TV e demais formas de comunicação que vieram posteriormente;



Mas apesar disso, não me lembro de ter visto uma derrota tão acachapante como a do Santos ontem, no Japão;




Nem mesmo a apática atuação da seleção brasileira contra a França, na copa da África, em 2010, se compara, em termos de abatimento, com o futebol (leia-se, a falta dele) que o time santista apresentou em Yokohama, na manhã deste domingo, 18 de Dezembro;




O jogo de ontem me lembrou, em todos os seus momentos, um amistoso que nosso time do bairro foi fazer certa vez, “fora de casa”, no campo onde disputaríamos uma etapa da regional classificatória para o torneio citadino da várzea, aqui em Porto Alegre; como reconhecimento do (des)gramado onde seriam os jogos, fomos gentilmente convidados a disputar uma partida, uma semana antes da estréia; nosso adversário seria o então por nós desconhecido Misto F.C.



Voltando ao jogo do Santos: antes, durante e depois da partida, falou-se muito na qualidade do adversário;




Mas é esperado de todo time que chega a uma final, seja ela qual for, que tenha mesmo uma capacidade superior de jogar futebol;




Por isso, a meu ver, não se justifica o massacre aplicado pelo time catalão sobre a equipe brasileira;




Certa vez, um jogador de futebol em entrevista falou, antes de um jogo também decisivo: “ninguém pode prometer vitória; mas pode prometer empenho”;



Na minha opinião, foi exatamente isso o que faltou ao Santos. Uma falta de atitude bem sintetizada no gesto de pedir desculpas a cada mínima falta cometida sobre os atletas do time espanhol. É a história do excesso de respeito. Quem se lembra de Dinho, ex Grêmio, ou de Mancuso, ex Flamengo, sabe o que estes e outros atletas do mesmo gabarito fariam no caso de ter que parar uma jogada, a fim de evitar o gol do adversário; mesmo que o adversário ganhasse o triplo do salário deles.




No caso do meu time, ninguém ganhava nada. Mas, por sermos “estrangeiros” no bairro dos caras, acabamos “sentindo o peso” da partida. Lembro do comentário de um de nossos zagueiros, assim que viu o time do Misto entrando em campo, com meias, calções, e camisas –de mangas compridas – amarelos: “vai ser f...!”



E foi mesmo! O Misto não fez jus à cor do fardamento e botou nosso time na roda; na única chance de ataque, nosso Neymar, que atendia pelo nome de Chiquinho, foi parado a meu ver, com falta, não marcada. Por sinal, o árbitro (que não se distinguiria dos demais presentes, não fosse pelo apito na boca) nunca estava próximo das jogadas; até nisso o jogo do Santos me lembrou nosso amistoso, com uma arbitragem desconhecida pela maioria. Por coincidência, também perdemos por 4X0 um jogo onde este que vos fala, vestindo a camisa um, pegou o possível e o impossível para evitar um placar mais elástico; mas nunca mudei de ideia em relação àquela partida: faltou pegada, atitude, uma mordidinha a mais; lá se vão cinco anos daquele jogo; e as lições continuam fresquinhas na memória;




Não estou, com isso, dizendo que tanto o nosso time do bairro quanto o Santos deveria ter dado porrada porque assim teriam vencido; não; estou apenas afirmando que mais do que ganhar ou perder, faltou ao time da vila jogar futebol; e muitos vão dizer que o time brasileiro “tentou jogar, mas não viu a cor da bola”; vão dizer que “o Manchester United ou o Milan também perdem do Barcelona”, porque “o Barcelona é o melhor time do mundo”; ora, o melhor time do mundo precisa ser atacado; Chiquinho-neymar, hoje jornalista, escreveu que “chamar o Barcelona para o seu campo não é a melhor estratégia”; o que se traduziu na melhor expressão sobre a final do mundial, penso eu. Foi o que fizeram Misto e Barcelona. No nosso campo, não!




Pois bem, o Santos é o segundo melhor time do mundo; penso que os santistas vão ficar senão felizes, ao menos honrados em saber essa verdade; quem é santista, queria estar em primeiro lugar; alguns que não são, também queriam; eu estou entre esses; mas não deu; não porque o Barcelona joga mais, mas porque o Barcelona joga mais quando precisa jogar; o Santos demorou a entender isso; dentro de campo, não superou em habilidade o time espanhol; mas poderia tê-lo superado em determinação, garra, vontade; como nosso time do bairro poderia ter superado o Misto; Chiquinho está correto; “no nosso campo, não”.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Pau que bate em quem?

No mundo globalizado de hoje, onde as notícias voam, muitos já sabem que a gravadora Sony Music foi condenada a pagar um milhão e duzentos mil reais a dez ONG’s que lutam contra o racismo; para quem não lembra, a função vinha rolando desde 2006; na época, o então cantor e atual deputado Tiririca lançou um CD contendo uma música chamada “Veja os cabelos dela”, cuja letra, de acordo com a acusação, instigava ao racismo; a gravadora fora condenada a pagar 300 milhões de reais, mas recorrera da decisão; agora, a sentença deve ser irrevogável.



Antes de tudo, devo dizer que não conheço Tiririca como músico; à exceção, talvez, por conta de “Florentina”, hitzinho pré-fabricado e que durou tanto quanto tantos outros à semelhança dele; a julgar por “Florentina”, devo dizer ainda que não gosto de Tiririca como músico; e sei que muitos compartilham dessa opinião, mesmo que não a expressem publicamente.


Entretanto, cabe aqui um questionamento: não é de hoje que, vez por outra, surgem músicas de teor contundente, sem que isso seja levado aos tribunais; Gabriel, o Pensador, chamou as louras de burras e isso virou uma verdade quase absoluta, ainda que sob a forma de piadas das quais, as próprias louras dão risada; também Chico Buarque, famoso por ser considerado profundo conhecedor da alma feminina, um dia jogou pedra na Geni, porque ela era boa de cuspir e, até onde se sabe, nunca desembolsou um centavo por causa disso; há ainda o exemplo do futebol, onde vale tudo (inclusive meter a mãe do outro no meio) menos chamar de macaco; e nessas circunstâncias, vamos imaginar quantas vezes o inesquecível humorista Antônio Carlos teria processado Renato Aragão, se contabilizasse todas as vezes em que Didi tratou Mussum com “racismo”? Esses exemplos bastam; poderia citar muitos outros;


Talvez seja como naquela piada, onde o pedreiro, todo sujo de cimento, precisa ir ao banco e é barrado na porta giratória; ao questionar o segurança por que o homem trajando terno e gravata pôde passar direto, recebe a seguinte resposta: “é que ele já deixou os objetos de metal antes”; em ambos os casos, me parece um exemplo óbvio de perseguição não declarada; aliás, com o advento da lei que pune o racismo com prisão, me parece que a situação ficou ainda pior; não apenas ele (o racismo) não desapareceu de fato, como agora está sendo praticado nas formas mais sutis possíveis.


Como disse, não gosto das músicas de Tiririca; melhor dizendo, não gosto da única música dele que já escutei; não o conheço como pessoa e não gosto dele como artista; também não tive ainda notícia de algo que ele tenha feito como parlamentar; mas não acho que nada disso seja motivo para que ele seja perseguido; a lei não é igual para todos? É preciso bom senso para reconhecer a tênue linha que divide a piada pura e simples da intenção de agredir; do contrário, em pouco tempo a censura estará de volta; para proteger os ditadores; desta vez, não os da política; mas os ditadores da arte.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Saudade dói

Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua,
dói cólica, cárie e pedra no rim.


Mas o que mais dói é a saudade.


Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.

Doem essas saudades todas.


Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor,
Ou quando alguém ou algo não deixa que esse amor siga,
Ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.


Saudade é basicamente não saber.


Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania
de estar sempre ocupada;


se ele tem assistido às aulas de inglês,
se aprendeu a entrar na Internet
e encontrar a página do Diário Oficial;
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros;
se ele continua preferindo Malzebier;
se ela continua preferindo suco;
se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados;
se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor;
se ele continua cantando tão bem;
se ela continua detestando o MC Donald's;
se ele continua amando;
se ela continua a chorar até nas comédias.


Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos;
não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer;


Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você,
provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler.


Miguel Falabella


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O Armazém do seu Carioca

Sou o tipo que não gosta de ir a supermercado; aliás, não gostar é pouco; eu odeio ir a supermercado; tenho meus motivos; vejo muitas coisas que não me agradam; o preço de alguns produtos é uma delas; mas é apenas uma; filhos pedindo coisas que não precisam a mães que não sabem dizer “não” é outra; com o advento dos hipermercados, piorou; tudo o que eu não gosto de ver no supermercado se superlativa no hipermercado; aliás, a indústria e o comércio em geral, tanto no Brasil como lá fora, parecem estar na puberdade: o que importa é quantidade e tamanho - garrafa de refrigerante de três litros, só para citar um exemplo.



Eu gostava mesmo era de ir no armazém, na vendinha ou no boteco, que na verdade, vinham a ser no final, a mesma coisa; no meu caso, o armazém do seu Carioca; uns diziam que era gaúcho, que passou um tempo no Rio do Janeiro e voltou com sotaque; eu nunca soube a verdade; mas gostava dele como pessoa; uma enorme barriga, caminhar arrastado por detrás do balcão, sempre com um sorriso no rosto do tamanho da barriga; um dos motivos de eu gostar de ir lá era ouvir aquela fala chiada dele; quando alguém chegava para comprar gás, entrava em cena um dos três filhos do seu Carioca - todos com a mesma esposa – para realizar o transporte; ainda lembro dele gritando, com o tal sotaque carioca: “Chicooo! Vai buxcá um gaixxxx!”


o ambiente no armazém do seu Carioca era tipicamente “botequense”, com direito a linguiça pendendo do teto e pote de balas giratório; eu olhava para aquele pote como um cãozinho diante da máquina de frango assado; no armazém do seu Carioca a gente comprava “no caderno” e a assinatura era o cabelo branco; fossem do pai ou do avô, os cabelos brancos eram a maior prova de confiança que um homem podia dar a um credor; nunca vi no armazém do seu Carioca qualquer aviso de que fosse proibido vender cigarro ou bebida alcoólica a menores de idade; nossos pais não precisavam de uma portaria assinada em Brasília para educar seus filhos; na verdade, nossos avós são os grandes responsáveis pela ótima educação que a minha geração recebeu dos pais. Quem me mandava ao armazém do seu carioca, por sinal, era minha avó.


Sinto falta do seu Carioca em especial, quando vou hoje ao supermercado; quando olho as pessoas se esbarrando na fila, sem pedir desculpas, lembro do amontoado de bêbados abraçados a cantar, no bar do seu Carioca; quando não encontro vaga no enorme estacionamento (e só preciso de UMA vaga!) bate uma saudade da rua de terra, vazia, onde ficava o bar do seu Carioca; quando o caixa do supermercado me cumprimenta por protocolo e não porque gosta de mim, me lembro do seu Carioca e dos seus filhos-caixas, que perguntavam sobre o jogo do meu time, meu desempenho na escola e sobre a minha avó; acho que centenas de armazéns como o do seu Carioca alegraram a vida de milhares de garotos como eu, por este mundo afora e hoje, não existem mais; não faz muito tempo, encontrei por acaso um dos filhos do seu Carioca em meio à correria da cidade, hoje, grande, e ele me deu a triste notícia: o seu Carioca não está mais entre nós; e isso já tem mais de dois anos; não perguntei do que ele faleceu; inclusive não me lembro de ter tido qualquer reação, na hora; fiquei atônito, imóvel, frente ao homem que eu cresci vendo ir “buxcar gaix”; ele pareceu notar minha estupefação; finalmente, manifestei-lhe meus sentimentos, conversamos mais uns minutos e cada um seguiu seu curso, assim como a vida segue; não ouviremos mais falar no seu Carioca, que diziam ser gaúcho; ficamos com a responsabilidade de fazer supermercado.


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Uma noite nos anos 80

Passavam exatos trinta e três minutos das nove da noite de 12 de Abril de 2011 quando Marie Friedriksson e Per Hakan Gessle, juntamente com sua banda de apoio, subiram ao palco. Dezoito anos depois, o Roxette estava novamente se apresentando em Porto Alegre.



Alequis, meu amigo que na pré adolescência me explicara o que significa “Dressed For Success”, não estava ali ao meu lado, quando a música assim intitulada abrira o show; mas para mim, foi como se estivesse; como certamente foi para cada uma das mais de seis mil pessoas presentes no local. Durante as duas horas que se seguiram, todos reviveram momentos de suas vidas que foram embalados pelas músicas da dupla sueca; amizades que se construíram e se desfizeram; incontáveis manhãs ou tardes na saída da escola, munidos de walkman nos ouvidos, com ou sem fita cassete; foram trilhas de filmes de cinema, de novelas de TV e da vida real; foram brincadeiras infantis que foram sendo sistematicamente substituídas por baladas; foram primaveras e verões, mas foram outonos e invernos; foram namoros, foram noivados e quem sabe, casamentos; foram os discos de vinil, os CD’s e o mp3; e quando Marie Friedriksson introduziu “lay a whisper”, foi como se a própria Julia Roberts estivesse ali, sentada na limusine indo embora do hotel, como na emblemática cena de Pretty Woman que ajudou a imortalizar a canção “It Must Have Been Love” e a própria banda.


Visivelmente debilitada por conta de sua luta contra o câncer, Marie deu claros sinais de cansaço ao longo do espetáculo; os agudos e os saltos de oitava que a consagraram também não se fazem mais ouvir; mas isso, para a platéia, pouco importou; todas as vozes que compareceram ao show bradaram elas mesmas a plenos pulmões os refrões que mais de uma geração aprendeu a amar – por vezes, chegando a abafar a própria música, coisa que eu só havia visto em vídeo dos Beatles! Em vários momentos, a banda parou de tocar e uma só voz se fez ouvir cantando “Spending My Time”, “Every Time You Leave” e “Joyride” entre outros sucessos; na grade de proteção da pista superior, fora estendida uma faixa na qual se podia ler “dött att lyssna Roxette” algo como “ouvir Roxette até a morte”, juntamente com uma bandeira da Suécia. Foi, enfim, uma noite onde se pôde acreditar que até mesmo o maior poeta da música de todos os tempos estava errado. Não. O nosso sonho não acabou! Ao contrário, está mais vivo do que nunca, nas vozes de Marie e Per.


Cerca de onze e meia da noite, após o guitarrista da banda ter solado o hino rio grandense em sua guitarra, aumentando ainda mais a celeuma causada entre os espectadores, Marie e Per começaram a dizer adeus aos gaúchos; antes ainda foi possível conferir uma versão acústica de “Things Will Never Be The Same”, executada apenas pelos dois. O sentimento que ficou? A saudade e a sensação de que o próprio tempo não passara, nestes dezoito anos em que tanta coisa mudou no mundo e em nossas vidas. Mas mais do que isso, talvez o sentimento mais forte possa ser sintetizado nas palavras de outro medalhão, dessa vez da música brasileira: que bom se essa música não terminasse jamais!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Coisas que eu queria te contar

Esta manhã, quando abri minha janela, havia uma moça na rua; ela estava se preparando para pegar o carro; trajava calça jeans, uma blusa e um casaquinho; usava óculos escuros e seu cabelo passeava pelo ar, obedecendo à vontade do vento que soprava e ao balançado de seus quadris; foi estranho e ao mesmo tempo, bonito, o modo como aquilo pareceu fazer parte de mim; e de tudo o que eu vivera até aquele momento; foi como se aquela moça, de algum modo, soubesse toda a minha vida; e ela entrou no carro, deu a partida e se foi; nunca nos falamos; provavelmente não mais a verei; toda a cena não durou um minuto completo; mas foi o suficiente para embelezar ainda mais um domingo que já tinha tudo para ser lindo; não sei se vem acontecendo somente comigo; às vezes, tenho vontade de perguntar às pessoas se acontece com elas também; mas o fato é que estou valorizando cada vez mais os domingos, esses dias que, definitivamente, não são iguais aos outros e que parecem se repetir cada vez mais depressa - quando vemos, mais uma semana se foi!


O prato do almoço não era o meu favorito; mesmo assim, comi como um rei; o vinho me pareceu o mais saboroso de todos, mesmo não sendo o da minha preferência; e escutei com atenção as mesmas historias de sempre, contadas pelas mesmas pessoas; só que hoje elas, as histórias, não me pareceram chatas como sempre; de algum modo, pude perceber que são partes de uma vida; de várias vidas que inclusive, se fundem com a minha própria; e fui até capaz de perceber lições contidas em frases que eu tanto escutara e nunca entendera, apenas porque não estava prestando atenção;


A tarde transcorreu exatamente igual a tantas outras: pessoas de todas as raças passaram por mim falando cada uma seu próprio idioma; teve passeio de bicicleta, caminhada, parque, roda de violão, sol forte, futebol na TV; e a cidade vibrou com os gols da vitória do nosso time, fogos de artifício se fizeram ouvir quando a partida acabou; e foi entardecendo e o vento (o mesmo que agitara o cabelo da moça horas antes) nos deu o recado de que era hora de voltar para nossas casas;


A temperatura caiu quando a noite chegou; trazendo a lembrança de um tempo em que todas as minhas preocupações se resumiam a uma angustia infantil por causa da prova na escola, na manhã seguinte; e a mesma alegria que eu sentia ao encontrar a colega mais bonita da minha sala se repetiu quando o seu rosto me veio à mente; e me lembrei da moça, do carro, do almoço, do passeio, do futebol; e foi aí que percebi que é você que dá sentido a tudo isso; foi então que notei que eu nunca antes prestara tanta atenção a mim e à própria vida; e como tudo ficou mais bonito e melhor depois que você chegou; e chorei de medo; não de te perder, mas sim, diante da possibilidade de passar por esta vida sem nunca ter te conhecido;


Hoje, sei que amo-te não apenas pelo que tu és, mas pelo que sou quando estou contigo.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Uma pizza de cinema!

A história que vou contar hoje se deu na primeira vez em que fui com a família da minha ex-namorada à pizzaria; pensando bem, era a primeira vez que saíamos para qualquer coisa; é claro que minha ex-sogra estaria junto; aí, sabe como é, mãe da namorada, a gente quer impressionar; lembro de ter perguntado à minha ex um dia antes qual era a pizza favorita da mãezona; na noite seguinte, quando o garçom falasse, junto à nossa mesa, o nome da pizza favorita da minha sogrinha, eu pediria um pedaço também, apenas para mostrar a ela que tínhamos mais em comum do que o amor por aquela linda loirinha; não importaria se eu não gostasse do sabor, se nem mesmo jamais houvesse sequer escutado falar na tal pizza; eu tinha que pedir um pedaço; e comê-lo, naturalmente. E a pizza se chamava Califórnia.



Durante todo o dia seguinte eu esquecera várias vezes o nome da pizza e passara o tempo todo ligando para minha namorada, a fim de que ela me lembrasse; por mais que me esforçasse, não conseguia guardar de jeito nenhum o raio do nome ‘Califórnia’. Não podia imaginar quem, em seu juízo perfeito, daria o nome ‘Califórnia’ a um sabor de pizza. Então, bolara uma estratégia: eu pensaria em algum lugar dos Estados Unidos, cujo nome fosse polissílabo. Logo, o nome ‘Califórnia’ viria à minha mente, rápido como num passe de mágica. Seria fácil assim.


Finalmente, a noite chegou e nos encontramos para sair. Ao descer do táxi, o nome da pizza favorita da minha sogra ainda estava fresco em minha memória; mas, à medida que a noite transcorria, os inúmeros nomes de pizza captados por meus ouvidos, vindos de todos os cantos da casa, aliados ao consumo elevado de bebida alcoólica fez com que me esquecesse totalmente do maldito nome da pizza favorita da minha sogra. E agora? Qual seria? Lembrava que havia uma associação com o nome de um lugar nos Estados Unidos; mas não conseguia ver associação entre um território americano e comida; seria pizza de waffles? Não, era um nome mais longo; pizza de chucrute? Não, isso é comida alemã; Deus, preciso me lembrar, eu preciso! O pior é que podia ser que até já tivesse passado e eu não tivesse visto; minha chance de fazer uma média com a velha tinha ido pro espaço! É nisso que dá muita cerveja!


De repente, me lembrei de um detalhe importantíssimo: era um nome polissílabo! Comecei então a tentar enxergar semelhança entre qualquer lugar acima do novo México e ingredientes usados para fazer pizza: “Oklahoma” não era; “Mississipi” também não; era com a letra “A”; “Alabama”, pensei, descartando em seguida; “é com C”... “Cincinnati? Também não; “Massachussets”? não, não tinha “M”. Comecei a tentar me lembrar o que acontecia nesse lugar que pudesse ser conhecido no mundo todo; e logo me veio a resposta: cinema; ainda assim, o nome em si, não me vinha; o mais difícil, no entanto, era administrar o esquecimento (estando bêbado!) e fazer cara de “nada está acontecendo”, para os outros presentes à mesa; em especial para a minha namorada que, naturalmente, estava notando as minhas reações faciais, típicas de quem está tentando lembrar de alguma coisa.


Foi nessa hora que um garçom se aproximou de nossa mesa e começou a falar:


- Boa noite, pessoal. Desculpem, mas notamos que nosso rodízio já se completou na mesa de vocês; assim, para garantir sua satisfação, estamos dispostos a perguntar se algum de vocês tem um ou outro sabor preferencial; dessa forma, traremos mais pizzas desse sabor, evitando assim que vocês tenham que esperar o ciclo do rodízio se fechar novamente.


Nisso, um cliente passou por nossa mesa, rumo ao banheiro; ao acompanhá-lo com o olhar, pude ver que as costas de sua camiseta estampavam um mapa da América do Norte e então, tudo ficou claro! O nome da pizza me veio de imediato e senti-me ridículo por tê-lo esquecido da forma como o fiz; agora, eu só tinha que responder ao voluntarioso garçom dizendo o nome da pizza favorita da minha sogra, para que ele nos trouxesse um montão de fatias; ignorando totalmente o detalhe de que o nome verdadeiro era polissílabo, ergui minha mão direita e, com a voz tão engrolada quanto só a de um bêbado pode ficar, bradei – para estupefação de todos, na mesa:


- Hollywood, por favor!

sábado, 10 de dezembro de 2011

Carl Barks e o mundo que eu sonhei

A cantora italiana Laura Pausini conta em seus shows que a canção ‘Il Mondo Che Vorrei’ foi a primeira que ela escreveu totalmente sozinha. Tive a felicidade de assistir ao vivo a sua performance no ano de 1997, quando ela passou por Porto Alegre com a turnê do disco “Le Cose Che Vivi”, então recém lançado. Como sugere o título, a música fala de problemas sociais e do desejo dela de ver a resolução dos mesmos, para que o mundo, enfim, se torne um lugar melhor. Muitos sabem que, de tão engajada na causa dos desfavorecidos, Laura se tornou embaixatriz da UNICEF na Itáila. “Il Mondo Che Vorrei” faz parte do DVD gravado em 2001 e ainda hoje é executada em seus concertos pelo mundo.



Carl Barks, que viveu entre 1901 e 2000, foi um desenhista americano, criador de muitos personagens que até hoje são, por muitos, atribuídos erroneamente ao próprio Walt Disney; entre eles, o célebre Tio Patinhas, os atrapalhados bandidos Irmãos Metralha, o sortudo Gastão e a feiticeira Maga Patalójika (assim mesmo, com “J” e “K”). Conforme ele mesmo contava, a infância de Carl fora bastante isolada, tendo como único amigo o próprio irmão, mas com quem não mantinha lá grande identidade. Com toda a probabilidade, essa época fora decisiva, do ponto de vista imaginativo do menino que se tornaria criador de uma cidade inteira – Patópolis.


Acho que Laura e Carl nunca se encontraram pessoalmente; o que, aliás, torna ainda mais incrível o número de coisas que talvez tenham tido em comum, sem nunca saberem; sempre me chamou a atenção a capacidade de pessoas que nunca sequer souberam da existência uma da outra terem pensamentos em comum; por mais que nesse caso, o bem seja um desejo universal, é, ainda assim, igualmente notável; ainda mais se levarmos em conta que, ao contrário do que acontece nos quadrinhos e nas canções, na vida real, nem sempre o bem vence no fim.


Penso que Laura Pausini seria um fenômeno de vendas de discos na cidade de Patópolis, se esta existisse realmente; principalmente porque lá, com certeza não existiria produto pirata; isso porque o coronel Cintra e seus homens estariam sempre prontos a rechaçar qualquer entrada de produto ilegal em território patopolense – possivelmente, contrabandeados pelos Metralhas que, mais uma vez, acabariam atrás das grades. Enquanto Donald e Margarida namorariam na rede, ao som de “Strani Amori”.


Tal como na canção de Laura, no mundo que Carl sonhou, havia mais justiça; Mancha Negra, a despeito de toda a ardilosidade e astúcia, sempre acabará na cadeia e nem mesmo todo o conhecimento sobre magia será capaz de ajudar a Maga a roubar a moedinha número um; no mundo de Carl, cedo se aprende que o crime não compensa; e que as novas invenções devem ser sempre usadas unicamente para o bem comum, como ensina o professor Pardal; em Patópolis, mal de Alzeihmer e AVC são invenções de médico; por isso tio Patinhas nunca deixará de ser lépido, disposto e ágil e o professor Ludovico, quanto mais viver, mais sábio será.


No mundo que Laura, Carl, você leitor, e eu sonhamos, Huguinho, Zezinho e Luisinho jamais serão Hugo, José e Luis; serão para sempre crianças, educadas, respeitadoras e estudiosas; apesar de viverem com o tio e não com os pais, nunca será preciso mandar chegar cedo em casa e não andar em má companhia; eles sabem que devem contar a Donald quando algum adulto vier oferecer dinheiro em troca de favores sexuais; os trigêmeos nunca chegarão perto de maconha, ou coisas piores, nem farão downloads ilegais; música para eles, é sertanejo universitário ou (por influência do milionário tio-avô) rock anos 80-70-60; Funk? “Não, obrigado”, respondem os três em uníssono quando lhes oferecem alguma transferência, via Bluetooth; em Patópolis as rádios não tocam funk, porque ninguém ouve funk; e o que é melhor, sem necessidade de censura!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Ficou faltando um

A copa do mundo de futebol disputada na França em 1998 foi especial para mim; lembro até hoje do então treinador da seleção brasileira, Zagallo, dizendo, ao fim de cada entrevista na TV, a frase pela qual ele seria lembrado: “vão ter que me engolir!” Zagallo fazia referência aos que eram de opinião contrária a ele ser o treinador ideal para a seleção. A cada vitória, o Brasil eliminava um adversário; e lá vinha o Zagallo, proferir outra de suas frases inesquecíveis: “só tá faltando quatro.” Agora, a alusão era à quantidade de adversários que faltavam para que o Brasil fosse campeão do mundo pela quinta vez em sua história. Mas ficou faltando um.

Após um bom começo, com uma vitória por 2X1 contra a Escócia e 3X0 contra o Marrocos, a seleção se deu ao luxo de perder o último jogo da primeira fase, numa pífia partida contra a Noruega. Lembro que uma famosa loja de calçados e material esportivo aqui da minha cidade lançou, na época, uma revista semanal, que vinha de brinde para quem comprasse acima de “X” valor; tenho até hoje as quatro revistas que “ganhei”, ao me esbaldar no cartão de crédito (e conhecer na prática, o significado da sigla SPC) apenas para ter a tal publicação; a imagem mais forte daquele jogo para mim, é a justamente uma foto da revista, onde Taffarel ajuda Jr. Baiano a levantar, depois do tombo que este levara com um drible de um Norueguês.

Mas ali acabou a brincadeira, como se diz; pelo resto da competição, o time brasileiro foi impecável! Venceu nas oitavas de final o bom time do Chile por 4X1. Neste dia, eu estava assistindo a partida na casa de uma família de amigos meus (pasmem!) chilenos. Lembro que a mãe deles afirmara, ao final da partida: “a partir de agora, meu time será o Brasil”. E o Zagallo disse: “só tá faltando três!”

As quartas de final foram contra a Dinamarca, que por pouco não honrou a camisa xadrez em vermelho e branco, estilo “mesa de restaurante italiano”. Num jogo sofrido, o Brasil bateu os gringos por 3X2 e avançou às semifinais. E nós, os meninos da turma, depois da partida fomos Jogar futebol, é claro. Reproduzir pela nossa rua os lances da copa do mundo! E o Zagallo, disse o quê? “só tá faltando dois!”

Mas nada, nada mesmo naquela copa superou em emoção a semifinal entre Holanda e Brasil; a seleção esteve na frente, permitiu o empate e, ao fim do tempo normal, seguiu-se a aflição da prorrogação; esta também acabou empatada, levando os brasileiros à agonia dos pênaltis que só terminou nas mãos do goleiro Taffarel; ao defender duas cobranças dos holandeses, o gaúcho classificou a seleção para a grande final, contra a França. E o Zagallo, disse o quê, dessa vez? Adivinhem!

Mas ficou faltando um; não se sabe ao certo até hoje o que aconteceu nos bastidores e, quando isso acontece, é comum cada um escolher a versão mais conveniente entre as muitas que escuta. Eu lembro que, imediatamente após a derrota da seleção pelo placar de 3X0 para a França, a TV pôs no ar um comercial que terminava dizendo: “valeu, Brasil; a gente não perdeu; só deixou pra depois”. Eu preferi, à época, não me deixar levar, ao menos não muito, pela emoção; foi difícil, mas tentei acreditar que a França tinha um time melhor, mais motivado, que jogava em casa e que de alguma forma, sabia que se não ganhasse uma copa do mundo naquela ocasião, dificilmente o faria em outra; e por isso deu o sangue em campo; à parte tudo isso, infelizmente, aquela copa ficou e ficará marcada como a copa que “o Brasil perdeu”, ao invés de ser lembrada como a copa que “a França ganhou”; meu coração de torcedor, apaixonado, é claro, mas jamais incoerente, não consegue acreditar em convulsão de atacantes, nem lobby entre marcas esportivas; muito menos que um time como a seleção brasileira possa vender um resultado em final de copa. Fui com meus amigos jogar bola, depois da final. Pena que ficou faltando um.