Como
a maioria das pessoas, ando um pouco ranzinza com essa historia de copa do
mundo no Brasil. Mas meus motivos, tenho certeza, são um pouco diferentes dos
delas. Eu ando ranzinza com quem anda ranzinza; explico: ora, o evento máximo
do futebol prestes a acontecer na terra do futebol e todo mundo só sabe
reclamar que vai dar engarrafamento e aeroporto congestionado? Será que houve
tanta reclamação assim na áfrica, na Alemanha ou no Japão e na Coréia? – isso para
citar apenas os mais recentes hóspedes da copa. Não, não foi uma pergunta. Se fosse
a resposta seria ‘não’. Todos esses países ficaram satisfeitíssimos em receber
um acontecimento da grandeza da copa do mundo – a despeito da arrogância da
entidade “maior” do futebol, que insiste em empurrar garganta abaixo o seu já defasado
nome, obrigando até as televisões a pronunciar a sigla, a cada vez que se fala
em copa do mundo.
Voltemos
aos brasileiros. Não adianta tentar fazê-los enxergar os benefícios que a copa
trará; é inútil falar em legado (talvez funcionasse se alguém explicasse o
significado desta palavra); os que não vêm sentido no desenvolvimento econômico
insistem em preservar as árvores e deixar as ruas estreitas, as mesmas ruas que
depois, se congestionam – culpa das montadoras, que estão fabricando carros
demais – falam em utilização de bicicletas, mas assim como as copas do mundo, isso
também parece recurso exclusivo dos europeus. Por aqui, a coisa “funciona” mais
ou menos assim: ‘se os outros usassem mais a bicicleta, então, eu não ficaria
preso no trânsito com meu carro e não precisariam derrubar as árvores para
alargar a pista’.
Imagina
na copa!
No
último amistoso da seleção antes da estreia na copa das confederações, Brasil e
França se enfrentaram na arena do Grêmio. Eu estava jogando tênis em um parque
quando passou na rua em frente, um ônibus de turismo, escoltados por aqueles
batedores de motocicletas, com suas luzes e sirenes chamando a atenção de todo
mundo. Lembro que era a minha vez de sacar, mas parei para ver a cena. Acho que
era o ônibus levando a seleção francesa, pois a nossa, tem seu próprio veículo.
Sei que uma parte de mim, foi para a arena dentro daquele ônibus; não, eu não queria
ser francês e jogar contra o Brasil. Eu queria ter sido jogador de futebol;
goleiro e da seleção; mas também não é por não ter conseguido ser que eu estou tão
eufórico com a copa, aliás, com as duas copas que serão realizadas por aqui. É porque
estamos vivos e com saúde para presenciar um momento único, uma passagem histórica
no esporte mundial e que, muito provavelmente, não veremos outra vez, nesta
vida. Exatamente como quando colecionávamos figurinhas das copas passadas. Só que
agora ao vivo, praticamente no pátio de casa! Aí está a razão da minha empolgação.
Depois
do tênis, fui com meu colega e a família dele almoçar no shopping; ao passar
por uma loja de eletrônicos, havia uma TV de sei lá quantas polegadas, bem na
entrada – sintonizada em desenho animado! Eram mais de quatro da tarde (hora de
início da partida) e minha vontade foi perguntar ao vendedor por que motivo
aquela GERINGONÇA, vendida a peso de ouro, que tem a mesma função da Telefunken
da minha avó, hoje aposentada em cima do guarda roupas (a TV, não a avó) não estava
sintonizada no jogo da seleção do meu país! Daí, eu chego em casa, ligo a TV no
domingo de noite, em um programa esportivo e a enquete dá o resultado da
pergunta: “pelo que apresentou hoje contra a França, o Brasil tem condições de
ser campeão da copa das confederações?” e sessenta e dois por cento respondem
que não(!)
Lembrei-me
de um antigo programa de perguntas e respostas no qual, de vez em quando o
apresentador dizia “mas você entendeu bem a pergunta? Oeeee!” sim, porque
somente isso é capaz de explicar um resultado desses: quem respondeu não entendeu
a pergunta. Então, vamos reproduzir aqui, falando paulatinamente e mentalizando
gestos: pelo que apresentou HO-JE, o Brasil tem condições de ser campeão da
CO-PA DAS CON-FE-DE-RA-ÇÕ-ES? Ora, se vencendo a França por três a zero,
sessenta e dois por cento acham que não ganha a copinha, eu proponho outra
pesquisa interativa: ‘o que você acha que o Brasil vai fazer na copa do mundo
em 2014?’ 1) papel de palhaço; ou 2) tornar o acarajé um alimento mundialmente
conhecido.
Enfim,
eu ando ranzinza; não com a copa; com essa, estou feliz da vida. Não sei se o Brasil
vai ser campeão, mas o importante é que verei uma copa do mundo; falarei com
pessoas de (quase) todo mundo, conhecerei hábitos diferentes e elementos
culturais que, sem o mundial, eu poderia nunca vir a conhecer. Não vou perder
tempo derrubando beicinho porque o trânsito está devagar (coisa que, diga-se, vem
acontecendo muito antes da copa) e assim como japoneses, coreanos, alemães e africanos,
entrarei para o seleto time dos povos que sediaram uma copa do mundo de
futebol. Só aí, já terei muito a comemorar!
PS:
será que já tem alguém fazendo birra no Kattar, pela copa de 2022?
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